16/12/2007

Casamento de Fatima e Ali ""A União Shiia""

Fátima e Ali se casaram provavelmente no início do
segundo ano após a Hégira. Ela devia ter perto de 19 anos e Ali 21. O próprio
Profeta celebrou a cerimônia de casamento. Os convidados foram servidos com
tâmaras, figos e "hais" (uma mistura de tâmaras e manteiga). Um membro dos ansar
deu de presente um carneiro e os outros ofertaram grãos. Toda Medina se
rejubilou.
Diz-se que o Profeta presenteou o casal com uma cama de madeira,
entrelaçada com folhas de palmeira, uma manta de veludo, uma almofada de couro,
uma pele de carneiro, um vaso e um moedor de grãos.
Pela primeira vez Fátima
deixou a casa de seu amado pai para começar uma nova vida com o marido. O
Profeta estava nitidamente preocupado com ela e mandou Barakah para ajudá-la em
caso de necessidade. Sem dúvida, Barakah foi uma inestimável fonte de conforto e
consolo para Fátima. E o Profeta rezou por eles:
"Ó Senhor, abençoe a ambos,
a sua casa e a sua descendência." Na casa humilde de Ali, só havia uma pele de
carneiro para a cama. Na manhã seguinte ao casamento, o Profeta foi até lá e
bateu na porta. Barakah veio atender e o Profeta lhe disse: "Ó Umm Ayman, chame
meu irmão para mim." "Seu irmão? Aquele que se casou com sua filha?" perguntou
Barakah algo incrédula, como se quisesse dizer: Por que o Profeta chama Ali de
seu irmão? (Ele se referia a Ali como seu irmão porque depois da Héjira os
muçulmanos estavam ligados numa fraternidade, assim o Profeta e Ali estavam
ligados como "irmãos").
O Profeta repetiu o que tinha dito numa voz mais
alta. Ali chegou e o Profeta invocou as bênçãos de Deus sobre ele. A seguir, ele
perguntou por Fátima. Ela apareceu quase que se encolhendo, entre espantada e
tímida, e o Profeta lhe disse:
"Eu casei você com o mais querido de minha
família." Desta forma, ele procurou tranquilizá-la. Ela não estava começando uma
vida nova com alguém estranho, mas sim com um que havia sido criado na mesma
casa, que estava entre os primeiros a abraçarem o Islam ainda muito novo, que
era conhecido por sua coragem, bravura e virtude, e a quem o Profeta descrevia
com seu "irmão neste mundo e no outro."

Ali trabalhava como carregador de água enquanto ela
moía o milho. Um dia ela disse a Ali: "Tenho trabalhado a terra até fazer bolhas
em minhas mãos."
"Eu tenho tirado água até meu peito doer." respondeu.
Ali, então, sugeriu a Fátima: "Deus deu a seu pai alguns prisioneiros de guerra,
portanto, vá e peça a ele para lhe ceder um servo."
Relutante, ela foi ter
com o Profeta, que disse: "O que a traz aqui, minha filhinha?" "Vim lhe
apresentar minhas saudações de paz," ela respondeu, porque, com vergonha dele,
não conseguiu dizer o que estava pretendendo.
"O que você fez?", perguntou
Ali quando ela voltou sozinha.
"Eu fiquei envergonhada de pedir a ele", ela
disse. Então, os dois foram juntos, mas o Profeta sentiu que eles tinham menos
necessidade do que os outros.
"Não lhes darei", ele disse, "os Ahlas Suffah
(muçulmanos pobres que ficavam na mesquita) estão atormentados pela fome. Não
tenho o bastante para ..."
Ali e Fátima retornaram para casa, sentindo-se um
pouco rejeitados, mas naquela noite, após terem ido para cama, eles ouviram a
voz do Profeta pedindo permissão para entrar. Puseram-se de pé e ele lhes
disse:
"Fiquem onde estão" e sentou-se ao lado deles. "Posso dizer-lhes
alguma coisa melhor do que aquela que vocês me pediram?" Eles responderam "Sim"
e ele disse: "As palavras que Gabriel me ensinou, que vocês devem dizer "Subhana
Allah" (Glorificado seja Deus) dez vezes depois de cada oração, e dez vezes
"Alhamdul lillah "Louvado seja Deus) e dez vezes "Allahu Akbar" (Deus é o
maior). E que quando vocês forem para a cama devem dizer trinta e três vezes
cada uma."
Alguns anos mais tarde, Ali costumava dizer: "Desde que o
Mensageiro de Deus nos ensinou aquelas palavras, nunca deixei de dizê-las uma
única vez."
Foi apenas através de Fátima que a descendência do
Profeta se perpetuou. Todos os filhos de Mohamed morreram ainda na infância e os
dois filhos de Zaynab, de nome Ali e Umamah, morreram jovens. O filho de
Rukayyah também morreu quando ainda não tinha dois anos de idade. Esta é mais
uma razão de reverência que é concedida à Fátima.
Embora Fátima fosse muito
ocupada cuidando das crianças, ela tomou parte, na medida do possível, nos
assuntos afetos ao crescimento da comunidade muçulmana de Medina. Antes de seu
casamento, ela era uma espécie de protetora dos pobres e desvalidos. Assim que a
Batalha de Uhud terminou, ela foi com outras mulheres ao campo de batalha e
chorou pelos mártires mortos e ainda arrumou tempo para cuidar das feridas de
seu pai. Na Batalha de Ditch, ela desempenhou um papel muito importante,
juntamente com outras mulheres, preparando comida durante o longo e difícil
cerco. Ela orientou as mulheres nas orações e naquele lugar existe uma mesquita
com o nome de Masjid Fatimah, uma das setes em que os muçulmanos guardavam e
praticavam suas devoções.
Fátima também acompanhou o Profeta quando ele fez a
Umrah, no sexto ano após a Hégira, depois do Tratado de Hudaybiyyah. No ano
seguinte, ela e sua irmã Umm Kulthun estavam entre os muçulmanos que
participaram, junto com o Profeta, da libertação de Macca. Diz-se que naquela
ocasião, tanto Fátima como Umm Kulthun, visitaram a casa de sua mãe, Khadija, e
rememoram os tempos da infância e da jihad, das longas lutas nos primeiros anos
da missão do Profeta.
No Ramadã do décimo ano, um pouco antes de ela fazer a
Peregrinação do Adeus, o Profeta confidenciou à Fátima, como segredo que ainda
não podia ser revelado aos outros:
"Gabriel recitava o Alcorão para mim e eu
para ele, uma vez a cada ano, mas este ano ele recitou duas vezes. Acho que
minha hora chegou."
Na sua volta da Peregrinação do Adeus, o Profeta ficou
seriamente doente. Seus últimos dias foram passados na casa de sua esposa Aisha.
Quando Fátima vinha visitá-lo, Aisha deixava os dois sozinhos.
Um dia ele
chamou Fátima. Quando ela chegou, ele a beijou e sussurrou algumas palavras em
seu ouvido. Ela chorou. De novo ele sussurou em seu ouvido e ela sorriu. Aisha
viu e perguntou:
"Você chorou e sorriu ao mesmo tempo, Fátima. O que o
Mensageiro de Deus lhe disse?" Ela respondeu:
"Primeiro ele me disse que irá
se encontrar com o seu Senhor daqui a pouco, e eu chorei. Depois ele me disse:
'Não chore porque você será a primeira de minha casa a se juntar a mim', e eu
sorri."
´Não demorou muito e o nobre Profeta morreu. Fátima ficou muito
abalada e muitas vezes ela foi vista chorando profusamente. Um dos companheiros
percebeu que nunca mais viu Fátima sorrir depois da morte de seu pai.
Uma
manhã, no início do mês de Ramadã, um pouco menos de 5 meses depois da morte do
pai, Fátima acordou parecendo muito feliz e cheia de alegria. Na tarde desse
dia, conta-se que ela chamou Salma bint Umays, que cuidava dela, e pediu para se
banhar. Depois vestiu roupas novas e se perfumou. Em seguida pediu a Salma que
levasse sua cama para o quintal da Casa. Com o rosto voltado para o céu, ela
pediu que chamasse o marido Ali.
Ele se surpreendeu quando viu a cama no meio
do quintal e perguntou a ela o que havia de errado. Ela sorriu e disse: "Tenho
um encontro hoje com o Mensageiro de Deus."Ali chorou e ela tentou consolá-lo.
Ela lhe disse para cuidar dos filhos al-Hasan e al-Husayn e pediu para ser
enterrada sem cerimônias. Olhou para cima mais uma vez e então fechou os olhos e
entregou sua alma ao Criador Todo Poderosos.
Fátima, a Resplandescente, tinha
apenas 29 anos de idade.